Saturday, May 29, 2010

.... A oscilação do pêndulo fazia-se em ângulos retos ao meu comprimento.Vi que o crescente estava disposto para cruzar a zona do coração. Desgastaria a sarja de minha roupa -- voltaria e repetiria suas operações - de novo, e ainda de novo... o vigor sibilante da descida, suficiente para cortar até mesmo aquelas paredes de ferro, o corte de minha roupa seria tudo quanto, durante alguns minutos, ele conseguiria..... Mais abaixo -- cada vez mais baixo, ele descia com firmeza. Sentira um frenético prazer em contrastar sua velocidade vertical com a velocidade lateral. Para a direita, para a esquerda, para lá e para cá, com o guincho de um espírito danada! Rumo a meu coração com o passo furtivo de tigre! Oscilava a menos de dez centímetros de meu peito! Eu lutava violenta e furiosamente para libertar meu braço esquerdo, que só estava livre do cotovelo até a mão. Podia apenas, com grande esforço, levar a mão à boca, desde o prato que estava a meu lado, e não mais. Se tivesse podido quebrar os liames acima do cotovelo, teria segurado e tentado deter o pêndulo. Seria o mesmo que tentar deter um avalanche!
Para baixo-- fatal e incessantemente para baixo! Eu arfava e debatia-me a cada oscilação. Encolhia-me convulsivamente a cada balanço. Meus olhos acompanhavam os vaivéns, para cima e para baixo, com a avidez do mais insensato desespero, fechavam-se num espasmo no momento de descida, embora a morte tivesse sido um alívio , e oh! quão inefável! Entretanto, todos os meus nervos tremiam ao pensar quão mínima descaída da máquina bastaria para precipitar aquele machado, agudo e cintilante, sobre meu peito. Era a esperança que fazia tremerem o meus nervos, que fazia meu corpo sentir calafrios, Era a esperança - a esperança que triunfa sobre o suplício, que sussurra aos ouvidos dos condenados à morte até mesmo nos calabouços da Inquisição!....


O Poço e o Pêndulo ( trechos)

Edgar Allan Poe - no Livro contos extraordinários - editora companhia das letras